Para responder essas e outras perguntas entrevistamos Renato Dorgan, ele representa a Travessia que é uma consultoria especializada em estratégia e diagnósticos políticos-eleitorais, à partir da realização de pesquisas de opinião pública.
1. Na sua opinião e dada a sua experiência em pesquisas, existe uma relação da aprovação de um governo municipal e a viabilidade da reeleição?
A relação é total. A eleição de prefeito é uma eleição muito próxima dos munícipes, é uma eleição menos ideológica e mais de corredor (grupos de apoio e avaliação dos serviços locais), claro que essa questão ideológica e de corredor ao longo dos últimos anos ela tem uma influência muito grande, mas quanto mais forte a gestão mais a discussão é local, de aprovação ou não daquela gestão. Então sem dúvida nenhuma, se o governo fez a lição de casa, ele pode até estar fora até dessa polarização direita-esquerda e vai ser em cima dele a discussão.
2. Na sua opinião, qual o nível ideal de aprovação de um governo que espera concorrer à reeleição?
Existe um mito, tem pessoas que cravam, eu não gosto de cravar porque eu não acho que política é algo é algo muito exato, ela muda muito, como fala Tancredo Neves: “Ela muda feito nuvem”.
Mas na minha opnião, acredito que o nível de aprovação acima dos 48% ou 50% você já tem um nível de competitividade muito grande. Acima dos 60% a reeleição é algo muito próximo.
3. Você já presenciou algum candidato à reeleição que perdeu as eleições com mais de 50% de aprovação no governo?
Eu não me lembro de candidato perder a reeleição com 50%, mas já vi muitos com aprovação de até 60% ou 70% não conseguir fazer um sucessor.
4. Na sua experiência, um prefeito de segundo mandato bem avaliado em seu governo, consegue transferir a sua reputação para um sucessor? Quais os impeditivos ou impulsionadores nestes casos?
Esse é um grande desafio, a transferência de votos.
Eu já presenciei prefeitos com mais de 50% de aprovação apoiarem outro candidato e esse candidato apoiado pelo prefeito perder. Porque as vezes eles escolhem algum sucessor desconhecido ou demoram muito para colar a imagem da gestão com esse novo candidato.
O sucessor depende muito, se você tiver ali um ambiente esvaziado, que o prefeito reina sozinho e tem uma aprovação muito alta a chance é muito grande de transferência e pode ser até alguém desconhecido.
Porém, se existe uma disputa mais forte, por exemplo, contra um ex-prefeito ou contra um ícone da cidade, mesmo o prefeito tendo alta aprovação, convém ele escolher alguém muito próximo dele, como um secretário de governo popular, um vice-prefeito ativo ou um deputado ligado a ele. Nesse caso precisa ser um conhecido, porque é muito curto o tempo para o eleitor conhecer o candidato, aceitar a transferência de votos e concordar com a com as propostas.
5. Qual a contribuição da pesquisa quantitativa e qualitativa na avaliação de um governo? Qual tipo você recomendaria para finalidade eleitoral? E qual o período ideal para realização das mesmas?
A pesquisa é completamente essencial.
Exatamente nessa lógica de saber o nível de conhecimento, o nível de rejeição ou não, aprovação do governo ou não, até para ver a capacidade de transferência de um prefeito ou a possibilidade de retenção fácil.
A quantitativa e qualitativa, ambas, são muito importantes.
Eu recomendo um governo fazer a cada 6 meses uma “quali” e de 3 em 3 meses uma quantitativa em períodos não eleitorais.
No ano da eleição, fazer uma série de “qualitativas”, sendo:
– no início do ano, uma de ambiente político;
– no meio do ano, uma para testar narrativas;
– na entrada da eleição, várias testando vídeos e outras linhas.
E a quantitativa fazer ela no ano de eleição a cada 2 meses e depois, no período eleitoral, fazer o Tracking de 45 dias, que é uma “quantitativa” que pode mostrar viradas nos resultados. Ela fica escolha do candidato podendo ser diária ou a cada 2 ou 3, até 4 dias, mas recomenda-se que seja pelo menos a cada 3 dias no máximo.
Renato Dorgan
Consultor
Sócio proprietário do Instituto Travessia, especialista em pesquisas qualitativas, MBA em Marketing Político, participa de eleições majoritárias por todo o país desde 1998, atuando nas áreas de pesquisa, estratégia política e marketing eleitoral e governamental. É também advogado e membro fundador do CAMP.